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sábado, 30 de janeiro de 2021

Breve crônica de uma pequena tragédia

 Após um mês de "férias" em casa de minha mãe, minha esposa e eu retornamos ontem ao lar, doce lar.

Após a rotina de higienização e desempacotamento das bagagens, reparamos que uma de nossas estantes adernava. Não seria a primeira vez que uma de nossas estantes despencaria sob o peso dos livros acumulados.

Cansados, resolvemos remover os itens frágeis, como a miniatura de urna marajoara, as cerâmicas levantinas e iranianas e, not least, boa parte da memorabilia de Harry Potter (sem falar do pequeno Wolverine de borracha, singelo presente de um aluno querido).

Evacuados os itens quebráveis, fomos cuidar do lanche.

Um tanto distraído, apanhei casualmente na última prateleira o esplêndido "Dom Quixote" comemorativo do quarto centenário e constatei a presença de certa poeirinha por baixo das páginas. Péssimo augúrio. À esquerda, a capa de "Joana d'Arc" de Mark Twain mostrava indícios semelhantes.

Já apavorado, apalpei a lombada de "O nome da rosa" e um eco sinistro sugeria que o livro andava oco. Desalojando Eco da prateleira, não havia mais dúvida: cupins, essas perversas bestíolas, haviam roído os alicerces do misterioso convento e as pernas de Guilherme de Baskerville. Um tapinha para sondar a prateleira fez com que metade dela desmoronasse. De mal a pior.

Soado o alarme, minha esposa pôs-se a resgatar os habitantes dos andares superiores, enquanto eu verificava o estado dos moradores do térreo. Poltronas iam se enchendo de livros enquanto me punha a verificar a extensão das perdas. De "Poliana Moça" sobravam apenas capa e contracapa, com um recheio poeirento e disforme. De uma barata edição de Jane Austen não ficaram o orgulho nem o preconceito. Piaget, felzmente, fora roído apenas nas margens. Uma vetusta e veneranda edição de "Formação Histórica do Brasil" foi reduzida a um compacto paralelepípedo carunchoso - o que não deixa de ser emblemático, excetuando a forma demasiadamente regular. Alceste bilíngue, comemorativo do jubileu de 2.400 anos de Eurípedes escapou  com um tolerável rombo na lombada. Um adorável "handbook" para secundaristas britânicos, anterior à I Guerra Mundial, foi quase completamente devorado. Rimbaud foi reduzido a um estado em que nem Rambo pode socorrê-lo.

Apesar dos pesares, o estrago foi muito menor do que poderia ser. "Sunt lacrimae rerum".















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