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sábado, 6 de outubro de 2018

Pessoas fascinantes e sofridas

-Oi, amigo, você gosta de piada? - me perguntou um morador de rua, quando eu passava.

Tenho costume de falar com moradores de rua, quando não me parecem perigosos. A pergunta era tão atípica que achei que tinha ouvido mal:

-O que o senhor disse?
-Perguntei se você gosta de piada.
-Sim, gosto.
-Então escolhe aí um livro e leva, de presente, tô te dando.

No banco, ao lado, havia uma pilha de surrados livros de piadas. Como recusar presente é desfeita, escolhi um livro do "Casseta & Planeta".

Conversando, ele contou que é técnico em enfermagem formado, mas o desemprego prolongado o forçou a morar na rua. Hoje ele é catador de lixo. Me disse que sempre adorou ler, e guarda todos os livros que encontra pelo lixo. Ao seu lado, havia um grande saco de plástico bem grosso e uma pasta "de carteiro", ambos repletos de livros. Explicou que quando sua biblioteca fica pesada demais para transportar em seu nomadismo urbano ele oferece alguns de presente aos passantes.

Nas horas de tristeza lê a Bíblia ou então livros de humor, para dar boas gargalhadas. Me contou uma piada que lera na véspera. Rimos juntos.

Ao me despedir, rogou que não jogasse o livro fora, que o guardasse como lembrança: "pra quando você pegar esse livro, dizer: 'ih, foi aquele neguinho que me deu esse livro'".

Nos despedimos com um aperto de mão. Virando a esquina, derramei lágrimas de gratidão ao universo por esse inusitado e tocante encontro.

Esse mundo está cheio de gente fascinante e sofrida - que Deus o abençoe!


Um comentário:

Thales disse...

Que relato tocante e cativante! Se a intenção era imergir o leitor neste evento único e pessoal, tornado intimamente universal, a missão foi cumprida com êxito. Não olvidarei uma narrativa tão preciosa e sei que ela retornará repetidamente em meus pensamentos ordinários e extraordinarios.