Nos últimos séculos nossa economia passou por profundo processo de monetarização, transformando o dinheiro na forma de riqueza mais valorizada socialmente. De fato, o dinheiro se tornou a riqueza por excelência; atualmente, riqueza e dinheiro são pensados quase como sinônimos.
Nesse processo, o dinheiro adquiriu o status de valor em si, ele deixou de ser um meio para se tornar um fim, a própria métrica e medida de tudo que existe no mundo. E, ao menos para o pensamento econômico ortodoxo, o dinheiro em si vale mais que tudo: minérios, plantas, comida, ar, água, tempo, arte, amizade, amor, família, alegria... De certa maneira, o dinheiro vale mais que vidas humanas - embora isso nunca seja admitido em alto e bom som.
Apesar de tudo, obviamente, ninguém come, bebe ou respira dinheiro. Precisamos urgentemente que as teorias e práticas econômicas assumam um caráter supramonetário, que se tornem capazes de pensar o trabalho e a riqueza como algo que está além do dinheiro e não pode ser reduzido à simplória abstração monetária.
De certo modo, creio que a maior falha das economias socialistas e comunistas do século XX foi justamente sua incapacidade de pensar e atuar em termos supramonetários - não estavam tão distantes quanto supunham das economias capitalistas; por sinal, a China atual não se encontra nada distante...
Termino essa breve divagação citando James Buchan, no excelente Desejo congelado, obra em que discute o significado do dinheiro:
"[...] o dinheiro deve sempre estar estável ou em movimento e precisa estar sempre na posse de alguém, para evitar que a sua essência monetária evapore: ao passo que a águia continua sendo a águia qualquer que seja a sua atividade ou domicílio. Isso é real como um beijo de pai é real, precisamente porque não tem preço. Suspeito que, quando os elementos da natureza se tornarem mais escassos, se tornarão não caros, mas literalmente sem preço [...]".
Nenhum comentário:
Postar um comentário