Newsletter

Sua assinatura não pôde ser validada.
Você fez sua assinatura com sucesso.

Oficina de Clio - Newsletter

Inscreva-se na newsletter para receber em seu e-mail as novidades da Oficina de Clio!

Nous utilisons Sendinblue en tant que plateforme marketing. En soumettant ce formulaire, vous reconnaissez que les informations que vous allez fournir seront transmises à Sendinblue en sa qualité de processeur de données; et ce conformément à ses conditions générales d'utilisation.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Como o Capitalismo "funciona"?

Hoje presenciei uma cena de cortar o coração. Em uma farmácia, uma senhora diabética, acompanhada da filha, escolhia quais remédios deixaria de levar para poder fechar a conta. As duas faziam piada da situação - às vezes o riso é o último recurso para nos protegermos diante das tragédias da vida. 

Minha esposa é diabética e usa alguns dos medicamentos em questão - realmente são muito caros, pois são fabricados na Europa e, como se sabe, nossa situação cambial tem sido catastrófica nos últimos anos.

Quando um diabético, especialmente idoso, se vê privado de medicamentos prescritos há um provável impacto em sua qualidade de vida e mesmo de sua expectativa de vida. Não há palavras capazes de expressar devidamente quão perversa é uma situação como essas. 

Vivemos em um modelo econômico em que pessoas recebem milhões para chutar uma bola, em que valores estratosféricos são empregados para a realização de um efêmero evento esportivo e mulheres idosas não conseguem comprar medicamentos essenciais - simplesmente porque uma empresa europeia detém o monopólio sobre certos medicamentos e a moeda brasileira se encontra desvalorizada.

Vivemos em um mundo em que milhões de dólares são gastos para a produção de uma patética cena de ação em uma franquia cinematográfica que produz e reproduz há quase três décadas filmes que são quase fotocópias cada vez mais imbecilizadas uns dos outros, estreladas por um galã que em breve precisará de fraldas geriátricas - que constituem também uma pesada despesa no orçamento de milhões de famílias.

Não se trata de argumento utilitarista. Esportes e cultura (inclusive o lixo hollywoodiano) fazem parte da trama da sociedade e da vida e são importantes para a coletividade. O problema é quando atletas e atores voam de balada em balada em jatinhos e hotéis de luxo e diabéticos não conseguem adquirir medicamentos essenciais; é quando bilionários queimam dinheiro com todo tipo de extravagância enquanto a muitos idosos falta dinheiro para aquisição de absorventes geriátricos.

Há quem diga que a grande virtude do capitalismo, guiado pela sabedoria de Mamon, é "funcionar". De minha parte, me recuso a acreditar que uma sociedade em que uns poucos tratam o luxo como necessidade e bilhões de pessoas precisem lidar com a necessidade como se luxo fosse é uma sociedade que "funciona". Se assim é, "funciona" para quem? Para a senhora cujo drama testemunhei hoje, certamente o capitalismo vem "funcionando" de mal a pior. 

"Meritocracia", responderão alguns. A estes pergunto que falta para que a senhora "mereça" seus remédios. Que fazem o "menino Neymar", as estrelas de Hollywood, os magnatas do Vale do Silício, banqueiros, especuladores de toda espécie e tantos outros para "merecer" uma vida de luxo nauseabundo em meio a tanta miséria?

De que adianta uma indústria farmacêutica que desenvolve medicamentos "milagrosos", mas cujos preços excluem desses benefícios bilhões de pacientes, crônicos ou não? Pior ainda, onde milhões de pessoas não conseguem sequer o acesso a um médico que lhes prescreva a medicação? 

"Ciência sem consciência é apenas ruína da alma", dizia Rabelais há quase meio milênio. 

Ciência não nos falta; a consciência, por outro lado, não "funciona".

Se nossa sociedade capitalista realmente funciona é apenas como um satânico moinho de triturar gente, como sugeria Karl Polaniy nos anos seguintes à infame Crise de 1929 - e haja gente para triturar nesse planeta...



Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente conteúdo. Realmente é uma inversão total de valores morais. Me lembrei daquela música: _"E o motivo todo mundo já conhece, é que o de cima sobe e o debaixo, desce"_. 😔 Também me lembrei do Viktor Frankl, lendo o seu primeiro parágrafo, quando ele fala sobre os valores de atitudes: quando eu me posiciono frente aos desafios e..com humor.