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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Aviso aos incautos

Na última semana circulou bastante na Internet a capa da revista Money Week, acompanhada da tradução: "Aposte no Brasil - Ele liderará a economia global". Entusiastas de Lula acolheram a novidade com grande empolgação - afinal de contas, após quatro anos ridicularizados na mídia internacional, é natural que se queira ver o Brasil em posição de destaque internacional, ainda mais "liderando" a economia global.

Mas há que se ter cautela na interpretação da dita capa - bem como da matéria correspondente.

Embora simpática, a arte de capa apresenta o Brasil basicamente como exportador de commodities e turismo - a parte que sempre nos coube no latifúndio global. Vale também observar que a frase original, "It will drive global economy" é bastante ambígua. "To drive" não necessariamente significa "liderar". Eu traduziria principalmente como "Ele movimentará a economia global". Nenhuma das definições do verbo "to drive" no Merriam-Webster se traduz bem por liderar. Há imensa diferença entre movimentar/aquecer a economia e liderar a economia. 

A própria ideia de "apostar no Brasil", no jargão financeiro, é pouco alvissareira para nós - especialmente considerando o público-alvo da revista. Apostar tem conotação muito diferente de investir. No mercado financeiro, apostar geralmente é sinônimo de alto retorno em curto prazo, com pouco compromisso. Bom pro capital especulativo; péssimo para o povo brasileiro.

Convém ainda ressaltar que a imagem do futuro presidente como vendedor ambulante acolhendo os "gringos" é bastante problemática. O entusiasmo desmedido pela simples capa de uma revista estrangeira diz muito sobre o modo como nos vemos no mundo, sempre carentes de (supostos) elogios vindos "de cima" - parte integrante de nosso famoso "complexo de vira-lata".

Não é questão de pessimismo - o grande problema é que o povo brasileiro já viu esse filme mais de uma vez e sempre termina com o Brasil endividado, quebrado e à beira do colapso social. A elite econômica nacional quase sempre enriquece no processo e, no final da festa, o "povão" é que paga a conta e fica com a ressaca. Ou a gente aprende com os erros ou fica repetindo.

O texto da matéria propriamente dito, que pouca gente parece ter se dado ao trabalho de ler, confirma parcialmente esses temores. Muito embora não encoraje o investimento especulativo de curto prazo, o texto ressalta os custos relativamente baixos de se investir no Brasil, com uma elevada relação custo-benefício - ou seja, a grande oportunidade se refere menos a questões de ordem qualitativa que aos valores de investimento comparativamente baixos que o Brasil oferece em relação outras economias emergentes. 

A "grande aposta" sugerida aos potenciais investidores estrangeiros é na velha trinca agropecuária (café, açúcar, soja, milho, carne bovina e biocombustíveis), mineração (níquel e ferro) e petróleo - mais do mesmo: os séculos passam, mas a cana-de-açúcar continua sendo um dos melhores negócios da Terra de Santa Cruz. A bem dizer, não é improvável que se trate de matéria paga pelas empresas e fundos mencionados na última página como boas opções de negócio no Brasil. Não se trata de avaliação econômica desinteressada; todo o texto é direcionado a potenciais investidores/especuladores. O entusiasmo agroexportador, por sinal, tende a desabastecer o mercado interno e não é nada bom para a gente, que só quer botar comida na mesa.

Para variar, não somos os convidados do banquete; somos o prato principal...

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