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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Profissionais da demagogia

Trecho de Tentações do Ocidente, de Pankaj Mishra, sobre políticos indianos, mas que bem serve a tantos outros lugares (inclusive nossa amada terra brasilis).


Forças bramânicas, afirmação dalit, integridade da Índia: as palavras representavam certamente algumas realidades reconhecíveis. Mas era possível ver coisas demais nelas e esquecer as intenções simples dos políticos que as usavam, pessoas que nem sempre tinham certeza do que diziam e que, apesar da diferença na retórica, falavam por eles apenas, e no final estavam lutando pelas mesmas coisas. Mal empregadas pelos políticos, as palavras as adquiriram a neutralidade de figuras matemáticas; você conseguia ajustá-las em qualquer lugar na contabilidade confusa da política eleitoral que, numa sociedade econômica e socialmente restrita, tinha-se tornado um meio cada vez mais atrativo para a mobilidade ascendente.


Para a massa dos camponeses e operários, e para a classe média de advogados, médicos, engenheiros, burocratas, professores e homens de negócio, uma nova classe de políticos profissionais tinha sido constantemente acrescentada desde 1947. Milhares de homens surgiram da massa geral de pessoas carentes e adotaram posições importantes dentro das legislaturas nacional e estadual. Homens sem nenhum treinamento ou habilidade especial, algumas vezes nem mesmo uma alfabetização e a oratória básicas. Grande número deles formado por criminosos. Poucos oferecem qualquer coisa além de sua identidade de casta e religiosa. A maior parte fica satisfeita em pilhar os recursos do Estado, e algumas vezes partilham do butim com membros de suas famílias ou grupos de casta. Eles todos procuram poder, o que, em sociedades degradadas pelo colonialismo, muitas vezes aparece separado de qualquer ideia de para que ele vai servir - o tipo de poder que, na maior parte dos casos, é pouco mais que uma oportunidade de elevar-se acima do resto da população e saborear as riquezas do mundo: viagens oficiais a Nova York, passeios de helicóptero, passagens grátis em trens, abastecimento de gás, guarda-costas vindos de "comandos" [das Forças Armadas indianas], carros dirigidos por choferes e multidões de suplicantes do lado de fora da porta.


Por trás da retórica de redenção de casta e religião, deserções, traições, colapso de governos e novas eleições, constantes intrigas em Déli e nas capitais dos estados, por detrás de todo o infinito drama da política na Índia, reside o medo que esses homens, elevados acima de sua posição, sentem: que a qualquer momento a riqueza do mundo possa lhes ser tirada e se vejam devolvidos às casinhas nas aleias sujas, à pobreza e a insignificância das quais a profissão de político os havia resgatado.


Não sei se as palavras são realmente de Lincoln, mas seu valor independe da autoria.


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