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segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O declínio de Cosme e Damião?

Tendo a pensar que a distribuição de doces de Cosme e Damião pode se extinguir, pelo próprio desinteresse dos católicos. 

Em minha família, todos que ofereciam doce já morreram ou, pela idade, não distribuem mais. Os católicos mais jovens não se interessam pela prática - o próprio hábito da promessa, em sentido geral, parece estar desaparecendo do catolicismo popular. Em certo sentido, a dinâmica psicológica subjacente à promessa tem migrado do catolicismo para o neopentecostalismo, embora sob expressões religiosas distintas, desta vez de inspiração veterotestamentária ("jejum de Daniel", vigílias, "subir o monte", entre outras). 

De todo modo, puxando pela memória, no meu círculo familiar havia seis pessoas ou casais que distribuíam doces. Desses, quatro morreram e duas não o fazem mais - de seis para zero. Uma mudança quantitativa drástica que,  penso eu, reflete um quadro social mais amplo. 

Avanço a hipótese de que, hoje, a prática ainda se mantém viva sobretudo entre praticantes de religiões afrobrasileiras - afinal de contas, a festa sempre teve forte conotação "afrocatólica".

Vale ainda lembrar que a própria festa sofreu muitas transformações ao longo do século XX, ao menos nos subúrbios cariocas. As mesas de doces nas residências particulares momentaneamente abertas para estranhos gradativamente perdeu espaço para os saquinhos de doces embalados para viagem e os próprios doces caseiros foram sendo substituídos por guloseimas industrializadas, normalmente adquiridas em comércio atacadista. Os banquetes comunitários também foram se tornando menos comuns, de certo modo "migrando" para as feijoadas de São Jorge. 

Curiosamente, a devoção por Ogum-São Jorge tem crescido nas últimas décadas, enquanto a festa de Cosme e Damião parece minguar.

Mudanças culturais entre gerações, o ritmo cada vez mais acelerado da vida urbana, permutas simbólicas no campo da própria religiosidade, tudo parece contribuir para o deslocamento da Festa de Cosme e Damião enquanto prática social - ainda que não necessariamente à sua extinção. 

Em certo sentido me lembra as reflexões de Peter Burke sobre o "triunfo da quaresma" na Idade Moderna; a religiosidade e a cultura popular sempre se transformam, às vezes drasticamente, em períodos de intensas mudanças sociais. 

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