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domingo, 28 de março de 2021

O paradoxo liberal e outros paradoxos

Um dos pressupostos básicos do Liberalismo Político é a pluralidade de visões de mundo e sua mediação pela via democrática. 

Por outro lado, desde ao menos meados do século XX, o Liberalismo Econômico é definido por seus zelosos adeptos como uma "ortodoxia econômica" - o que, necessariamente, implica taxar quaisquer outras concepções e práticas econômicas como "heterodoxias" e, portanto, como desvios de uma suposta norma. 

Tal dogmatismo é ainda mais inflexível em sua vertente neoliberal, cuja peleja desde o pós-guerra foi, em grande medida, "expurgar" a "heterodoxia" keynesiana.

Em lugar da ideia de uma "Economia Política" consolidada pelo século XIX, o século XX gradativamente viu a tácita consagração de algo como uma "liturgia econômica" que não tolera heresias. 

A partir do momento em que o Liberalismo Econômico se posiciona como uma ortodoxia, ele nega - ainda que veladamente -  à pluralidade o direito de existir, negando simultaneamente um dos pressupostos básicos do Liberalismo Político. 

Eis, em suas linhas gerais, o paradoxo liberal. 

Em boa medida suponho que tal paradoxo derive de uma premissa "ortodoxa" que se consolidou ao longo do século XX, em especial devido à Guerra Fria - a noção de que democracia e capitalismo são indissociáveis. 

Os últimos 200 anos provam sobejamente que o capitalismo convive muito bem com regimes autoritários e, muitas vezes, são os próprios interesses capitalistas que contribuem para a instalação de semelhantes regimes.

O século XXI nos desafia com inúmeras quimeras (no sentido mitológico) derivadas desse paradoxo. A maior delas, sem sombra de dúvida, é o "Comunismo de Mercado" chinês. Em escala menor, vemos aberrações como os "liberais na economia, mas conservadores nos costumes" que emergiram no Brasil nos últimos anos, assim como os extravagantes "anarcocapitalistas" (sic).

A Rússia representa outro caso mais que emblemático: de uma autoritária monarquia agrária passou a um autoritário regime socialista, cuja queda originou um regime capitalista igualmente autoritário. O caso russo nos convida seriamente a refletir até que ponto essa longa procissão de regimes políticos autoritários reflete mais profundas raízes culturais que ideologias passageiras - sem, obviamente, recorrer a um tentador e simplório determinismo cultural.

Tantos para-doxos nos convidam a refletir sobre a confusa complexidade do mundo em que vivemos, irredutível a rótulos banais ou rígidas categorias. Nossas ideias só se aproximam da realidade quando abandonamos o conforto das orto-doxias ideológicas de variados matizes e começamos a refletir de maneiras hetero-doxas.

Quanto ao "paradoxo liberal" propriamente dito, convém ressaltar que as vertentes do Liberalismo possuem uma história longa, rica e complexa - e que quase 200 anos separam Smith de Friedmann.




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