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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Encantos da Arqueologia

Dedicado à amiga Ana Delmas, interlocutora original do texto que segue

Qualquer escavação arqueológica é mágica, indendentemente da relevância do sítio. 

Falo por experiência própria. Me recordo de certa ocasião em que encontrei uma pequena argola de ferro, de uns três centímetros de diâmetro, em uma humilde fortificação setecentista em Angra dos Reis, na enseada de Piraquara. No curso da escavação, a peça se mostrou isolada. 

A quadrícula onde a encontrei continha apenas um caco de telha, um caco de vidro e uma moeda de pouco valor, datada do Primeiro Reinado. 

Nunca soube, nem saberei, para que servia aquela argola, onde foi manufaturada, como ela chegou até lá,  nem quem a usou. Mas é fascinante pensar em todos esses mistérios sem respostas. 

São ínfimos testemunhos de que, em algum momento entre os séculos XVIII e XIX, naqueles isolados rincões do litoral atlântico, pessoas viveram ali, sentinelas olhando para o mar, à espera de alguma embarcação inimiga que provavelmente nunca apareceu.

Talvez tivessem um precário telheiro sobre a cabeça e guardassem dinheiro para gastar em alguma localidade próxima. 

Também é interessante pensar que aquela isolada fortificação em uma colina à beira-mar, cercada pela Mata Atlântica, estava ligada ao resto do mundo e aos acontecimentos de seu tempo. 

As pedras da construção (um rude trabalho de cantaria assentado com argamassa de óleo de baleia) eram de origem local, mas a moeda, a telha, o vidro e a misteriosa argola vieram de outros lugares - assim como, provavelmente, os soldados da guarnição.

De resto, o humilde sítio arqueológico testemunha o quanto a relevância que atribuímos a espaços e territórios muda ao longo do tempo. Em longínquos tempos, as autoridades coloniais lusitanas e, depois, a monarquia brasileira, julgaram que era necessário construir uma rede de fortificações para resguardar aquela enseada de ameaças variadas - de contrabandistas luso-brasílicos a corsários como Duguay-Trouin (que, bem se sabe, desembacara não muito longe dali, em Guaratiba, para saquear a Mui Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro).

As fortificações propriamente ditas eram muito humildes - apenas toscas plataformas de vigilância, em pontos elevados, e outras, em pontos mais baixos, onde encontramos vestígios de baterias de canhões - embora só tenham sobrado os suportes de pedra, tendo as valiosas peças de artilharia certamente sido removidas para outro lugar que, no século XIX, tenha se tornado estrategicamente mais relevante (ou, quem sabe, o sistema de fortificações tenha sido desativado justamente para facilitar o tráfico clandestino de escravos, após a Bill Aberdeen).

No entanto, naquele longínquo ano de 2004, embriagado por Tolkien, minha imaginação quis jocosamente crer que aquela argola era um dos   Anéis de Poder saídos das sinistras forjas de Sauron. 

Cheguei então a colocar a larga argola em meu dedo anelar e brinquei com meus colegas de escavação - também eles embriagados por Tolkien. Talvez algum de nós tenha imitado o Gollum de Andy Serkis, como tanto se fazia na época: "My Precioussssss"!

Seduz imaginar que algum perverso Nâzgul tenha andado pela brasílica terra. Afinal de contas, a tirania de Mordor parece sempre perto daqui e há muitos Sarumans dispostos a destruir florestas em nome do progresso. Mas não há Ent que nos salve...



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