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sábado, 21 de março de 2020

COVID-19 NO BRASIL: a boa e a má notícia

AVISOS IMPORTANTES: Não sou especialista em infectologia ou em estatística. Sou apenas um doutor em História com algum interesse amador por estatística e ciências exatas. No entanto, o que falo aqui se baseia em dados pesquisados de fontes sérias e envolve apenas o uso de matemática simples, como aritmética básica e regra de três. Vale ainda notar que sou um "pessimista esperançoso" (reze pelo melhor, mas prepare-se para o pior). Justamente por isso, trabalho com números majorados, isto é, contando para cima. Como ensina o grande estatístico Nassim Nicholas Taleb, ao estimar riscos devemos sempre contar com o pior e trabalhar com a pior hipótese possível em mente. Note-se ainda que traço aqui ESTIMATIVAS, não PREVISÕES - o futuro a Deus pertence e não sou profeta. Feitos esses avisos, vamos ao que interessa.

Primeiro a má notícia, depois a boa e, no fim, uma conclusão e sugestões.

1) A má notícia
Consultei ontem o boletim diário da Organização Mundial de Saúde (OMS) e constatei alguns índices relevantes sobre o panorama epidêmico no Brasil. Temos quase 500 casos confirmados e 4 óbitos. Uma semana antes, em 13/03/2020, tínhamos cerca 70 a 90 casos confirmados ou em vias de confirmação e nenhum óbito registrado. Isso significa que (a) o contágio se acelerou gravemente em 7 dias; (b) o número de casos não-diagnosticados já está provavelmente na casa dos milhares (eu chutaria algo entre mais que 2.500 e menos que 10.000); (c) a tendência é piorar muito nas próximas semanas. Segundo os dados coletados na China, na Coreia do Sul, no Irã e na Itália, já estamos na faixa em que os casos dobram aproximadamente a cada seis dias. Isso nos dá aproximadamente a seguinte perspectiva para as próximas 3 semanas:

Não me arrisco a projetar mais do que 3 semanas, pois muita coisa pode acontecer nesse intervalo, para melhor ou para pior, com consequências imprevisíveis. No entanto, trabalhando apenas com a estimativa de casos confirmados, podemos imaginar o cenário hospitalar decorrente. Sabemos que aproximadamente 80% dos pacientes de COVID-19 podem ser tratados apenas com isolamento domiciliar e 20% exigem internação, dos quais cerca de 5% necessitam de UTI e 2,5% exigem aparelhos de respiração artificial. Vejamos o que isso significa em nossas estimativas.


Como se percebe, a curto prazo o impacto sobre a rede hospitalar não parece tão grave. Não é bem assim. Tenho uma amiga médica que vem observando o número de internações e encaminhamentos para UTI crescer de modo preocupante durante a última semana - um dos óbitos registrados ocorreu exatamente no hospital onde ela trabalha. Alguns membros da própria equipe hospitalar (menos de 10) já foram infectados e estão em isolamento domiciliar ou internados - isto é, em apenas uma semana nosso "exército" já sofreu baixas que não poderão nos ajudar contra o inimigo; na melhor das hipóteses ficarão fora de "combate" por longas semanas - o que é muito grave.

No entanto, convém observar que a Tabela 2 lida apenas com o número de casos confirmados, e não com o número de casos não-diagnosticados. Nas próximas semanas é provável uma explosão de casos confirmados, muito além da estimativa que tracei, por uma razão muito simples: a FIOCRUZ está produzindo kits de exame em ritmo acelerado para fornecimento ao SUS; já havia 30.000 kits prontos e entregues na última semana, com previsão de mais 40.000 para esta semana. Isso significa que, com mais kits de exame disponíveis, cada vez mais pacientes serão examinados e passarão da estatística de "casos suspeitos" para "casos confirmados" - enquanto muitos outros casos não diagnosticados continuarão invisíveis para detecção, em pacientes assintomáticos em fase de incubação. Até aqui, tudo "bem". A crise parece "sob controle", mas não é bem assim. Cedo ou tarde, os pacientes não-diagnosticados sucumbirão aos sintomas, buscarão atendimento médico e levarão à sobrecarga do sistema de saúde, como veremos na próxima tabela, onde as datas são propositalmente deixadas em aberto, como datas, x, y e z. Nessa tabela trabalho apenas com as piores hipóteses da Tabela 1, pois, como já disse, devemos nos preparar para o pior, ainda que esperando o melhor.

Aqui já temos uma situação MUITO grave. No "Dia Z" - digamos, na virada de abril para maio (ou antes) - já seriam necessários cerca de 4.000 leitos de UTI. O número total de leitos de UTI no Brasil, somando SUS e hospitais privados é de aproximadamente 23.000. Parece tudo "bem", mas não é, pois há muitos pacientes precisando de leitos de UTI por inúmeros outros casos graves de saúde. Posso dar exemplos pessoais. A mãe de uma colega minha, paciente de esclerose múltipla precisou passar algumas semanas na UTI durante o mês de fevereiro. Uma pessoa de minha família teve em 2019 uma infecção bacteriana gravíssima e precisou ficar cerca de dois meses na UTI. Além disso, SEM Coronavírus, já existe fila para UTI. Em 2015, meu sogro, que tinha câncer de pulmão em estágio avançado sofreu uma parada cardiorrespiratória durante um exame com contraste; precisava de UTI, mas não havia nenhuma unidade disponível; ele precisou esperar mais de uma semana numa unidade de caráter emergencial até que houvesse uma vaga disponível para sua transferência para uma UTI "de verdade". Isso significa que a emergência repentina de 4.000 pacientes infectados necessitando UTI agravaria a sobrecarga de um sistema de saúde que já vive cronicamente sobrecarregado.

É necessário fazer todo o esforço possível para NÃO chegarmos nem perto de uma situação equivalente ao "Dia Z" - ou pior. Nas semanas após o "Dia Z" tudo só ficaria pior e pior, nos levando rapidamente a um quadro semelhante àquele que hoje vemos no Irã e na Itália. Em junho, ou antes, estaríamos à beira do caos. E não adianta pensar algo como "Tenho plano de saúde" ou "Tenho dinheiro na poupança", pois a rede privada de saúde também não é capaz de dar conta da situação. Todos os hospitais do Brasil, públicos ou privados, estariam superlotados e sobrecarregados.

Mas há esperança.

2) A boa notícia
Como já vimos, a progressão do vírus é assustadora e perigosa. Não podemos, de modo algum, brincar com uma situação dessas. No entanto, alguns dados nos permitem ver uma luz no fim do túnel. Quais são eles?

Uma semana atrás, ainda não tínhamos nenhum óbito registrado. Essa situação dificultava traçar estimativas sobre a crise, pois não nos permitia estabelecer uma estimativa essencial para avaliar a gravidade da epidemia no Brasil: a taxa de letalidade específica de nosso país.

Gostamos de lidar com números fixos e únicos, pois isso nos passa uma sensação de precisão e certa ilusão de segurança. Um grande perigo é a terrível ilusão causada pelas médias. Uma média aritmética, simples ou ponderada, não representa uma realidade - ela é apenas uma abstração matemática elaborada a partir do registro de um conjunto de casos sobre uma determinada grandeza (estatura, peso, altura, idade, renda etc) e da posterior divisão do somatório pelo número total de casos.

É mais fácil entender isso com um exemplo concreto. Imagine que duas pessoas estão sentadas à mesa e há um frango assado. Uma das pessoas na mesa come o frango inteiro, e a outra não come nada. No entanto, estatisticamente, podemos dizer que cada pessoa naquela mesa comeu em média a metade de um frango. Como abstração matemática, essa afirmação está correta, mas não corresponde à realidade!

O mesmo acontece com relação à taxa de letalidade do COVID-19. A imprensa vem alardeando um número constantemente: a taxa de letalidade do Coronavírus é relativamente baixa, cerca de 3%. Isso causa uma falsa sensação de alívio em muitas pessoas, por dois motivos.

O primeiro é porque 3% é apenas uma porcentagem, não um número absoluto. Isso significa que se tivermos um contágio hipotético de 50 milhões de brasileiros, teríamos cerca de 1.500.000 óbitos. E, considerando a virulência do COVID-19, que é extremamente alta e rápida, 50 milhões pode ser considerado um número otimista. Como dito, na fase inicial de contágio local, o COVID-19 tende a dobrar o número de pacientes a cada 6 dias, mas quando o número de infectados ultrapassa certo limite, entra numa fase de contágio muito mais acelerado, dobrando o número de pacientes a cada dois dias. Imaginemos agora um cenário hipotético, mas nada impossível: no dia 1º de junho o Brasil contaria com 100.000 infectados. A próxima tabela estipula a progressão do vírus e dos óbitos nos dias seguintes, a uma taxa de letalidade de 3%:


Como mostra esse cenário hipotético, em meros 15 dias o número de infectados poderia alcançar o equivalente à população inteira do município de São Paulo, o mais populoso do Brasil, número maior de pessoas que alguns pequenos países, como a Finlândia. Por outro lado, o número de óbitos também seria considerável, maior que a população da maioria dos pequenos municípios brasileiros e mesmo superior à população de municípios de médio porte, como São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Em suma, uma taxa de letalidade de 3%, embora baixa, se torna terrível quando aliada a um vírus com grande potencial contagioso, que em menos de 6 meses já se espalhou por todos os continentes habitados.

O segundo motivo para desconfiar da taxa de letalidade de 3% é que esse número é apenas uma média - ou seja, uma abstração matemática, como dissemos. Na verdade, a taxa de letalidade varia de país para país. Nos casos mais graves, como a Itália e o Irã, chega à espantosa casa dos 5%; num caso de grande sucesso, como a Coreia do Sul, está contida desde a quarentena em "apenas" 0,5%. Isso significa que a taxa de letalidade não é um dado absoluto, mas depende principalmente da maneira com que cada país lida com a crise.

O caso sul-coreano se explica em grande medida por dois aspectos: pela qualidade do sistema de saúde sul-coreano, um dos melhores do mundo, com grande disponibilidade de leitos hospitalares, mas, principalmente, pela rapidez com que as autoridades sul-coreanas reagiram à crise. Medidas severas de quarentena foram tomadas com apenas 31 pacientes confirmados. Caso as autoridades tivessem hesitado demais em tomar medidas de quarentena, mesmo o excelente sistema de saúde sul-coreano estaria provavelmente sobrecarregado - afinal de contas, mesmo construindo dois hospitais em menos de 10 dias a China conseguiu apenas amenizar a crise na província de Hubei,

A Coreia do Sul aprendeu com a trágica experiência da província chinesa de Hubei e da cidade de Wuhan, e nós também podemos aprender com o sucesso sul-coreano. Afinal de contas, o ser humano é o único animal que consegue aprender com os erros e acertos de seus semelhantes. É impossível transformar da noite para o dia nossa rede hospitalar em algo semelhante à Coreia do Sul, mas é perfeitamente viável adotar as mesmas medidas de quarentena.

A boa notícia é justamente essa. Com os dados disponíveis em 20/03/2020, podemos calcular a taxa aproximada de letalidade no Brasil (sempre majorando os números para pior, como explicamos no início do texto). Pois bem. Temos hoje 500 casos confirmados no país, e apenas 5 óbitos registrados. Empregando a famosa "regra de três", podemos agora estimar a taxa de letalidade atual no Brasil.


Esses dados são realmente muito animadores e superam as expectativas. Um taxa de letalidade na faixa de 1% nos deixa mais perto da Coreia do Sul que da Itália e do Irã, ou mesmo da Espanha, da Alemanha e da França. Como explicar esse "milagre" brasileiro?

3) Conclusão e sugestões
A explicação para nossa situação presente é relativamente simples. A última semana nos trouxe algumas gratas surpresas, especialmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente maior e segundo maior focos de COVID-19 no Brasil, por vários fatores, como denso tráfego aeroportuário internacional, elevada densidade demográfica em suas respectivas capitais e cercanias, transporte público superlotado, entre outros.

No entanto, justamente nesses dois grandes focos infecciosos as autoridades estaduais tomaram atitudes em tempo hábil. Por mais que repudie as concepções políticas de Doria e Witzel, devo reconhecer que ambos se puseram em ação oportunamente, com suas medidas de quarentena, ainda que precárias. Atitudes já foram tomadas e suponho que nossa presente taxa de letalidade se deva às medidas implementadas nessa primeira semana de quarentena. Manter o máximo possível de pessoas em casa, consequentemente reduzindo a concentração de pessoas no transporte público já tem um impacto significativo para a contenção do contágio. Proibir aglomerações também é uma medida essencial. Reduzir o tráfego de pessoas entre municípios e para outros Estados também são atitudes importantes.

Cada dia conta, e inúmeras autoridades estaduais e municipais também estão tomando medidas, ainda que moderadas. A prefeitura de Recife também é particularmente merecedora de elogios por suas ações preventivas. Em suma, cada medida, por menor que seja, de "distanciamento social" já é importante. Talvez essas atitudes pequeninas pareçam insignificantes como um gota d'água, mas vale lembrar que todo Oceano é constituído por minúsculas gotas d'água. Nesse momento é importante que cada uma dessas gotinhas se acumule, forme uma poça, um lago, um riacho, até finalmente resultar numa poderosa torrente capaz de varrer a ameaça do COVID-19 para longe de nós.

Cada dia, repito, CADA DIA conta, e esses primeiros sete dias de quarentena, ainda que tímidos, ganharam tempo para nós.

Quando os poderosos exércitos cartagineses marcharam com seus elefantes contra a república romana, o general Fabius Maximus Cunctator, sabendo da inferioridade numérica dos legionários romanos, preferiu provocar pequenas escaramuças que atrasavam o avanço do inimigo contra Roma. Muitos acharam que essa estratégia era covarde, que seria preferível enfrentar os cartagineses em uma grande batalha campal contra os inimigos, apesar da inevitável derrota.

Mas Cunctator enxergava mais longe. Ele sabia que cada dia de atraso reduzia os provimentos das tropas de Cartago; o racionamento se impôs e aos poucos os soldados cartagineses foram enfraquecidos ou morreram pela fome. Parte das tropas desertou ou morreu pelo caminho. Finalmente o exército invasor estava suficientemente enfraquecido para que as tropas romanas o expulsassem de seu território. De covarde, Cunctator foi elevado a herói salvador da república romana e seu nome se perpetuou através dos séculos.

Nossa situação hoje é muito parecida àquela da república romana contra as tropas de Cartago. Um exército de bilhões de vírus já invadiu nossas fronteiras e começamos a ter nossas primeiras baixas. Assim como os romanos, nossos recursos para resistir ao inimigo são muito frágeis - nos faltam leitos hospitalares, equipamentos e, principalmente, temos escassez de recursos humanos na área da Saúde; os faxineiros higienizando os hospitais, os técnicos de enfermagem, enfermeiros e médicos são nossa última linha de defesa contra o exército do COVID-19 e precisamos fazer tudo ao nosso alcance para atrasar o exército inimigo, para que os profissionais de Saúde tenham as chances de enfrentar e vencer a batalha derradeira por nós.

Nesse exato momento estamos mais perto da Coreia do Sul que da Itália porque agimos a bom tempo, ainda que um tanto atrasados. A Coreia do Sul começou sua quarentena com apenas 31 casos confirmados, e nós também começamos com ligeira desvantagem, com 77 casos diagnosticados - ao contrário da Itália e outros vizinhos europeus, que esperaram muito mais casos antes de agir. É justamente por isso que nossa taxa de letalidade hoje está mais perto da sul-coreana que da italiana.

No entanto, ainda não chegou a hora de cantarmos vitória. A luta está apenas começando. Essa primeira semana foi muito importante, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Podemos dizer que saímos da primeira batalha com poucos mortos e feridos, mas ainda temos uma longa e amarga guerra pela frente. Nosso inimigo é incansável, e nós também precisamos ser.

Agora que adotamos a estratégia da quarentena, qualquer recuo pode ser fatal. Na verdade, devemos prosseguir cada vez mais vigorosamente no caminho adotado. Não há retorno possível, o caminho é em frente.

Como em uma guerra de verdade, serão necessários grandes, imensos, sacrifícios por parte de cada um de nós e por parte de nossa coletividade. Unidos, venceremos; divididos, sucumbiremos.

Temos diante de nós um grande dilema. As medidas de quarentena certamente terão um peso grave sobre a economia de nosso país - sem falar nos danos à economia mundial. Na verdade, não é propriamente um dilema: vidas humanas valem mais que dinheiro; é simplesmente uma questão de escolher entre a Bolsa ou a Vida. Tenho certeza que todos nós preferimos a VIDA. Entre os anéis e os dedos, fiquemos com os últimos.

Nesse sentido, não temos propriamente um dilema, mas um desafio. A perda econômica será inevitável. É um sacrifício necessário, mas sobreviver a uma guerra sempre exige sacrifícios, especialmente quando temos entre nós um inimigo invisível, silencioso e rápido. Se a Europa e o Japão se recuperaram economicamente de duas guerras mundiais que deixaram seus territórios, fábricas, campos e estradas destroçados, nada nos impede de nos recuperarmos depois da guerra contra o COVID-19, que ao menos não destruirá nossas estruturas produtivas. Mais ainda, o Japão e a Alemanha renasceram das cinzas da guerra mais poderosos que antes; o Japão teve as bombas de Hiroshima e Nagasaki e a Alemanha passou por duas guerras, um regime totalitário e genocida e décadas de divisão, mas os povos japonês e alemão se recuperaram de todos esses traumas com vigor renovado. Se eles puderam, nós também poderemos.

O mais importante, o essencial nesse momento, é manter com firmeza as medidas de quarentena que já foram adotadas, sem revogar NENHUMA delas prematuramente e, nos próximos, dias, semanas e meses, tomar mais e mais medidas preventivas conforme forem necessárias. Como Fabius Maximus Cunctator precisamos atrasar os exércitos do COVID-19 até que nossa vitória definitiva se torne possível.

Cabe agora implementar medidas mais rigorosas de restrição ao tráfego aéreo e rodoviário doméstico e internacional, para evitar que a pandemia se espalhe dentro e fora do país - isso é essencial e já estamos muito atrasados nesse sentido. A reação do governo federal ainda é demasiado lenta, mas lhe cabe implementar essas e outras medidas que já se fazem tardias.

Também é necessário fazer o possível para proteger os microempreendedores, trabalhadores autônomos, desempregados e as famílias em situação de vulnerabilidade. Já existem propostas nesse sentido, para garantia de renda mínima, renegociação de dívidas, suspensão temporária da cobrança de serviços de água, luz e gás, entre outras. Essas propostas precisam ser implementadas quanto antes, pois pouco adianta vencer o inimigo se deixarmos os mais pobres entregues à miséria e à fome.

As grandes empresas de todos os setores, precisam pensar em alternativas inovadoras para manter seus serviços, especialmente os serviços essenciais à população, sem expor seus funcionários à ameaça do COVID-19; talvez sacrifiquem parte de seus lucros financeiros, mas a generosidade não tem preço. Práticas de home office ou revezamento, conforme o setor de atividade envolvido, são uma primeira alternativa; no momento mais crítico talvez seja necessário dar férias coletivas e prolongadas aos empregados, mas cada vida salva fará esse sacrifício valer a pena. O setor bancário também pode fazer muito durante e após a crise, renegociando dívidas de pessoas físicas e jurídicas. O povo brasileiro conta com a consciência e a responsabilidade social dos empresários nesse momento.

Cada cidadão também pode contribuir de várias maneiras. Antes de tudo, obedecendo as orientações de quarentena, evitando aglomerações e mesmo sair desnecessariamente de casa - um pequeno, minúsculo sacrifício. Aqueles de classe média podem dispensar diaristas e empregadas do serviço, pagando suas despesas integral ou parcialmente, conforme possível, negociando descontos em faxinas futuras, se julgarem necessário. Doar ou emprestar um saco de arroz ou uma xícara de feijão a um vizinho pode poupar alguém de um dia de fome. O mais importante é não deixar ninguém desamparado nesse momento. Mais que nunca, precisamos ser solidários uns com os outros. Estamos todos juntos na trincheira contra o COVID-19 e um bom soldado não abandona seus companheiros.

Ressalto ainda uma vez: cada passo certo nos deixa mais próximos do sucesso sul-coreano e cada passo errado nos deixa mais perto da catástrofe italiana.

Termino esse texto citando o famoso discurso do estadista Winston Churchill após a terrível retirada das tropas britânicas e francesas de Dunquerque, na "Operação Dínamo":


Esta luta foi prolongada e violenta. De repente a cena desanuviou, e a tempestade, por ora - mas apenas por ora -, se extinguiu. Um milagre de salvação, alcançado pelo heroísmo, pela perseverança, pela disciplina perfeita, pelo serviço impecável, pela capacidade, pela habilidade, pela fidelidade inconquistável, é manifesto para todos nós [...]. Devemos tomar muito cuidado para não atribuir a essa salvação as características de uma vitória. Mas houve, nessa salvação, uma vitória que deve ser notada. [...] Um esforço como jamais foi visto em nossa história hoje está sendo feito. [...] O capital e a mão-de-obra deixaram de lado seus interesses, direitos e costumes e se colocaram a serviço do bem comum. Eu, pessoalmente, tenho plena confiança de que se todos cumprirem com seu dever [...] nos mostraremos, mais uma vez, capazes de defender nossa terra [...].


Nos cabe agora, cidadãos brasileiros, cumprirmos cada um com nossa parte, pequena ou grande, com a força da Coragem e a luz da Esperança. Se julgar apropriado, passe essa mensagem adiante.

Um comentário:

Unknown disse...

Excelente pesquisa Professor Tavares, Parabéns pela explanação feita ao tema! Vamos fazer a nossa parte para não chegarmos ao dia Z, como explicado na tabela 3. Sobre a sua conclusão nesse estudo, a operação Dínamo, estamos em uma guerra, e em uma guerra não á neutralidade, é assim na vida espiritual, ideologia política, entre outras, na guerra contra o corona Vírus devemos fazer a nossa parte, como os donos das embarcações que foram resgatar os soldados do exército britânico.