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terça-feira, 24 de setembro de 2019

Colecionando vexames - Bolsonaro na ONU

Bolsonaro fez sua estreia internacional em Davos. Ofereceu à audiência um discurso pífio, tanto pela brevidade quanto pela superficialidade; esquecendo que falava a investidores, e não a eleitores, mirou a plateia errada.

Hoje, na ONU, cometeu o mesmo tipo de equívoco. O discurso de hoje deveria tomar por alvo a comunidade internacional, mas Bolsonaro, mais uma vez, preferiu falar a seu eleitorado cativo.

Olhando retrospectivamente, a brevidade de seu pronunciamento em Davos parece uma virtude. Hoje o presidente apresentou uma peça de oratória longa, piegas, enfadonha e ridícula, talhada ao duvidoso gosto de sua claque, mas que provavelmente encontrou pouca ressonância perante a comunidade internacional.

Boa parte da fala se ocupou da velha paranoia a respeito dos médicos cubanos, do Foro de São Paulo e da ameaça socialista. Num delirante arroubo, o presidente afirmou salvar o Brasil do socialismo - talvez soasse convincente na época da Guerra Fria; hoje parece apenas anacrônica miragem macartista, pouco capaz de despertar simpatia diante dos diplomatas e governantes presentes.

As peremptórias bravatas sobre a soberania nacional brasileira e o "colonialismo" estrangeiro, tingidas com a paranoia conspiratória sobre o "globalismo" certamente soaram para a maior parte da audiência internacional como gritos quixotescos contra moinhos de vento. Certa passagem foi particularmente pitoresca em sua pieguice: "Esta não é a Organização do Interesse Global!É a Organização das Nações Unidas. Assim deve permanecer!"

As tépidas declarações de compromisso com os direitos humanos e com a proteção ambiental tampouco devem ter convencido muita gente, dado o menosprezo com que Bolsonaro sempre tratou essas temáticas.

O tom ostensivamente religioso de certas passagens certamente é caro a parcelas do eleitorado brasileiro, mas deve ter causado estranhamento e antipatia a muitos ouvintes estrangeiros.

As falas acerca das populações indígenas, para além de absurdas em inúmeros detalhes, ganham contornos grotescos no tom de ataque pessoal ao cacique Raoni, que Bolsonaro deveria tratar respeitosamente ao menos em função da idade. Roupa suja se lava em casa, e não é nada elegante ou cortês que um presidente vá a uma tribuna internacional para falar dessa maneira de qualquer cidadão de seu próprio país, ainda mais de uma figura pública reconhecida e respeitada por indígenas de inúmeras etnias.

Igualmente lastimáveis foram as pueris farpas endereçadas a Macron e à Europa e estéreis os servis afagos a Trump e Israel, testemunhando uma lamentável estreiteza de vistas. A arte da diplomacia, quando bem praticada, consiste em desfazer tensões e granjear simpatias; a intervenção de hoje tende ao oposto disso.

Esses foram apenas alguns dos disparates mais dignos de nota dessa nova fala presidencial que em nada ajudou os interesses internacionais do povo brasileiro. O discurso de Bolsonaro provavelmente não abriu nenhuma porta e é mesmo possível que tenha fechado outras.

Em suma, hoje foi um triste dia para a arte de Demóstenes e Cícero, tanto quanto para a pátria de Ruy Barbosa.


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