Extraído de Sonhos de um vidente elucidados pelos sonhos da Metafísica (1776), de Immanuel Kant:
"A Filosofia, que não receia comprometer-se, examinando toda a sorte de questões fúteis, fica muitas vezes perplexa quando topa em certos fatos de que não se poderia duvidar impunemente e que não poderia crer sem se tornar ridícula. É o que acontece com as histórias de almas do outro mundo. Com efeito, não há censura que a Filosofia sinta mais do que a da credulidade e apego às superstições vulgares. Os que se dão facilmente o nome e o realce de sábios zombam de tudo aquilo que, inexplicável tanto para o sábio como para o ignorante, coloca-os ambos no mesmo plano. É por isso que as histórias de fantasmas são sempre ouvidas na intimidade e denegadas em público. Pode-se ter certeza de que jamais uma academia de ciências jamais escolherá tal assunto para um concurso; não por estar cada um dos membros dessa academia persuadido da futilidade e da mentira dessas narrativas, mas porque a lei da prudência põe sábios limites ao exame dessas questões. As histórias de fantasmas sempre encontrarão crentes secretos e serão sempre alvo, em público, duma incredulidade de bom tom.
Quanto a mim, a ignorância em que estou da maneira por que o espírito humano entra neste mundo e dele sai, impede-me de negar a verdade das diversas narrações que por aí são contadas".
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