Imagine a paisagem mais fantástica possível: um vulcão em erupção; uma aurora boreal sobre um plácido lago; uma revoada de pássaros sobre o pantanal; o entardecer em Veneza; cerejeiras em flor num palácio japonês; as cataratas do Iguaçu ou de Niágara; uma noite estrelada sobre o Atacama; manadas de animais selvagens bebendo água na savana; Macchu Picchu; a Cidade Proibida; qualquer outra coisa que lhe agradar.
Agora imagine uma sala com uma ampla janela panorâmica de onde se descortina essa paisagem.
Agora imagine uma pessoa nessa sala.
Agora imagine que essa pessoa não liga a mínima para a paisagem, mas observa embevecida a janela propriamente dita, atenta a todos os seus detalhes: o vidro e sua espessura, o caixilho, a largura e a altura da janela, etc. É uma janela perfeitamente ordinária, como qualquer outra - no entanto, o observador não tem olhos para a outra coisa. Comenta entusiasticamente a janela com aqueles ao seu redor. Redige anotações sobre a janela; desenha esboços da janela; fotografa os detalhes da janela; elabora gráficos e tabelas sobre a janela. Para o observador, a janela se tornou uma jaula.
Agora imagine que uma terceira pessoa consulta essas anotações, desenhos, fotografias, gráficos e tabelas. Ela saberá tudo sobre a janela, mas quase nada sobre a paisagem deslumbrante - apenas um ou outro elemento marginal, relacionado à janela.
Às vezes, lendo alguns trabalhos acadêmicos, me sinto como essa terceira pessoa.
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