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quarta-feira, 13 de junho de 2012

Olhares congelados

Tenho pensado muito sobre janelas.

Sempre fui fanático por elas, devo dizer. Sempre que chego a um ambiente novo, boa parte de minha atenção vai para o que se pode ver através da janela. No entanto, subindo as escadarias de Notre Dame, comecei a me dar conta de algo muito interessante: de certo modo, uma janela é um olhar congelado no tempo...

Precisamente ao ver essa janela, comecei a me perguntar: o que alguém via dessa janela, na Idade Média? De lá para cá, quantas pessoas já pararam aqui para olhar o panorama da cidade de Paris? Mas esse foi apenas o começo de uma reflexão, aprofundada visitando o Chateau de Vincennes.
Bom exemplo são as janelas do "chemin de ronde" (acima), o caminho percorrido pelas sentinelas para vigilância do castelo. Comecei a me questionar não apenas a experiência daqueles que estiveram à janela olhando, mas do processo criativo que produziu a janela a ser olhada. Essas janelas foram originalmente concebidas como postos privilegiados para a defesa do castelo, sendo testemunhos de uma concepção estratégica do terreno circundante. Construir uma janela é também dirigir olhares para algo que está em determinada direção. Toda janela traz embutida uma especificidade do olhar, uma perspectiva própria.

Por exemplo, Raymond du Temple, arquiteto do Chateau de Vincennes, construído para o rei Carlos V, foi habilíssimo programador de espaços. Sua grande cartada foi, certamente, a escada do rei, dando acesso aos visitantes.
O projeto era brilhante, correspondendo perfeitamente ao momento de consolidação da monarquia francesa. Essa escada de aparato convidava o visitante a subir lentamente, contemplando através de seus balcões a magnífica e grandiosa fachada do castelo, preparando sutilmente o encontro com o rei. Talvez, por um contágio do olhar, o monarca parecesse tão admirável quanto sua bela fortaleza. Ao mesmo tempo, quão diferentes os modos de ver incitados pelas grandes janelas da escada e as pequenas vigias do "chemin de ronde"! Raymond du Temple era também um exímio construtor de olhares...

Enfim, a janela é frequentemente portadora de uma intencionalidade, seja ela militar, pragmática, estética, religiosa ou mesmo política. Nesse sentido, a janela é testemunho de uma determinada perspectiva, de uma específica interpretação do espaço circundante e do olhar que se quer projetar sobre esse mesmo espaço.

No entanto, é essencial lembrar algo banal: que não se trata obviamente uma imagem congelada, afinal de contas o espaço muda constantemente ao redor da janela. Também é desnecessário dizer que me parece muito difícil (e provavelmente pouco útil) realizar uma "historiografia das janelas"... Ainda assim, vale a pena debruçar-se sobre uma janela antiga, qualquer janela, e imaginar, se perguntar o que seria possível ver dali em outros tempos e, principalmente, por que ela foi construída sob esse ponto de vista. Em suma, tentar enxergar a realidade através desse "olhar congelado"...

4 comentários:

Ana Delmas disse...

Sabe que também penso assim quando me debruço sobre uma janela como essas? Em Versailles você pode sentir que está vendo o mesmo horizonte que Maria Antonieta e seus outros moradores... Fiquei tentando imaginar apenas aqueles jardins povoados com outras roupas e mentalidades. E na Torre de Belém? Pensar que alguém sem liberdade tentava fitar os entornos tendo apenas o barulho das ondas como companhia... Retomando um outro escrito seu, o que será que as gárgulas de Notre-Dame diriam se pudessem nos contar tudo o que viram? Concordo que uma "historiografia das janelas" pode ser pouco útil, mas particularmente, muito difícil. Mas certamente é um excelente exercício para estimular o pensar, para nos darmos conta de que cada homem é um homem de seu tempo, assim como sua janela, não acha? Sem dizer que, como aprovariam os realistas/naturalistas, é um instrumento literário fantástico! Ah! Para variar, adorei o post. Brilhante!

http://lanchinhodameianoite.wordpress.com disse...

Sabe que também penso assim quando me debruço sobre uma janela como essas? Em Versailles você pode sentir que está vendo o mesmo horizonte que Maria Antonieta e seus outros moradores... Fiquei tentando imaginar apenas aqueles jardins povoados com outras roupas e mentalidades. E na Torre de Belém? Pensar que alguém sem liberdade tentava fitar os entornos tendo apenas o barulho das ondas como companhia... Retomando um outro escrito seu, o que será que as gárgulas de Notre-Dame diriam se pudessem nos contar tudo o que viram? Concordo que uma "historiografia das janelas" pode ser pouco útil, mas particularmente, muito difícil. Mas certamente é um excelente exercício para estimular o pensar, para nos darmos conta de que cada homem é um homem de seu tempo, assim como sua janela, não acha? Sem dizer que, como aprovariam os realistas/naturalistas, é um instrumento literário fantástico! Ah! Para variar, adorei o post. Brilhante!

Rogério Marques disse...

Mais difícil que uma Historiografia das janelas seria sem dúvida uma historiografia dos diferentes Olhares dos homens através dessas janelas.

Interessante perceber toda a gama de possibilidades que a experiência de se inserir e contemplar "novos" lugares pode suscitar.

Se bem que, como você afirma, já era um fanático por janelas. E não necessariamente francesas. hehe

Adorei o texto. Você congrega com perfeição seu vasto saber histórico com seu entusiasmo de explorador do Velho Mundo.

Continue nos levando nessa viagem!

Fabiana Esteves disse...

É tanta gente culta que comenta aqui que me senti uma PORTA, não uma janela... mas re-pito que o menino escritor continua rondando...